25 de Abril: Para não cair no esquecimento
Em 25 de Abril de 1974 alguns militares politicamente mais esclarecidos, os «Capitães de Abril» como ficaram na história, descontentes com a guerra colonial e com algumas leis que afetavam os oficiais de carreira, conspiraram e levaram a cabo uma revolta com o objetivo de instaurar um regime democrático em Portugal.
Vivíamos numa ditadura corporativa, voltados para África, na senda de um regime que se proclamava de «orgulhosamente sós», na defesa de um país que se afirmava multirracional, multicontinental, uno e independente.
O analfabetismo era muito. O atraso em relação à Europa era enorme. A guerra colonial, com tudo o que ela teve de mau, gerou descontentamento geral entre o povo, sempre o mais sofredor. A incapacidade de os nossos governantes se adaptarem às correntes do pensamento então dominantes, era notória. A aceitação da autodeterminação das nações africanas era impensável. Tudo isso levou ao Golpe de Estado, seguido de uma Revolução.
Os militares, que, eventualmente, apenas estariam interessados em acabar com a guerra e estabelecer a democracia entre nós, viram-se ultrapassados com o regresso de exilados políticos, nomeadamente, Mário Soares e Álvaro Cunhal, e com as festas do 1.º de Maio, pela primeira vez celebrado em liberdade em Portugal, com a expressão que lhe era devida.
Partidos políticos assumem a liderança do processo, de mãos dadas com os militares ou contra eles, e Portugal foi bandeira de uma revolução sem muito sangue.
O MFA declara, como essência dos seus projetos, Democratizar, Descolonizar e Desenvolver o País. A democratização, com altos e baixos no pós-revolução, foi criando raízes, ultrapassando ideias totalitárias de minorias irrealistas; a descolonização tem sido (mal) explicada pelos que a fizeram, sem conseguirem libertar-se das “raivas compreensíveis” de centenas de milhares de portugueses que se viram obrigados a fugir de populações em fúria e ávidas de liberdade, sem que nada tivesse sido feito em favor de quantos nas colónias respeitaram os indígenas, através dos séculos; e o desenvolvimento, que muitos não veem ou não querem ver, a vários níveis, ainda não teve a coragem de erradicar a pobreza de enormes faixas da população. E se é verdade que hoje se vive muito melhor do que antes do 25 de Abril, também temos de reconhecer que, em pleno século XXI e 45 anos depois de Abril, 20 por cento dos portugueses passam fome e estão privados do que é essencial e próprio de uma vida digna.
Com o 25 de Abril abre-se uma nova era na comunidade nacional. A liberdade voltou, os partidos políticos nascem como cogumelos, as colónias tornam-se independentes, as greves e os movimentos reivindicativos sucedem-se, as ideologias até então reprimidas voam por todos os cantos, a economia perde o norte, os golpes e contragolpes multiplicam-se e um ano depois reúne-se a Assembleia Constituinte, que nos dá a Constituição para um novo período da nossa história.
Novas mentalidades e maneiras de ver e de ser brotam com força, o ensino democratiza-se, a justiça social manifesta-se, a reintegração dos portugueses estabelecidos nas colónias e forçados a regressar a Portugal, de livre vontade ou fugidos, é um exemplo para muitos.
Com novas mentalidades, com a mulher a seguir, legitimamente, uma carreira profissional, as famílias viram-se forçadas a reestruturar os seus ambientes. Surgiram novas instituições para responder às necessidades das famílias e outras tiveram de se readaptar às circunstâncias.
A Escola e a vida aceitam a democracia e o país olha mais para a Europa. E na linha da frente, como noutras épocas históricas, a Igreja Católica ocupou o seu espaço na proclamação e na vivência das suas doutrinas e no apoio, sobretudo, aos que mais sofrem.
A Gafanha da Nazaré não ficou indiferente à revolução. A adesão foi bastante expressiva, tendo surgido na altura os diversos partidos nascidos com a democracia de Abril. Novas mentalidades valorizaram o espírito democrático e o povo tornou-se mais aberto e mais participativo. Novos horizontes se instalaram entre as populações aqui radicadas.
Fernando Martins
Do livro “Gafanha da Nazaré — 100 anos de vida” com ligeiras adaptações
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