Gosto do meu recanto criado no sótão. Ali, depois de subir degrau a degrau, agarrado ao corrimão, isolado do burburinho caseiro, leio tranquilamente, sem nada que me possa perturbar. Só há uma janela para ver a paisagem, pela qual vejo ao longe a mata da Gafanha, que vi crescer desde a minha infância. Silêncio de ouro. Nem sombra de gente e de carros, nem o sol do entardecer a pousar no mar, nem o chilrear da passarada, apenas a chuva que marca o ritmo no telhado de chapa ensanduichada.
Na minha frente, ao lado da janela, há uma planta herdada de minha saudosa mãe. Até parece que a estou a ouvir: “Rega-me essa planta; não vez que está a precisar de água?”
Levanto-me, pressuroso, e confirmo. Pego na garrafa, sempre disponível, e rego a planta que minha mãe nos deixou.
F. M.
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