Evocando um gafanhão: Josué Ribau

Josué Ribau


No meio de tantas ruas batizadas com nomes de pessoas que pouco ou nada nos dizem, de vez em quando lá encontramos uma ou outra com nome de gente nossa. Neste capítulo, embora seja difícil selecionar os que merecem tal honra, pensamos que se devia ter em conta que houve gafanhões dignos de ocuparem placas toponímicas. Como o Dr. Josué Ribau, que hoje e aqui evocamos.
A rua com o seu nome liga a Av. José Estêvão à Rua Sacadura Cabral. Quem segue pela Avenida em direcção ao Forte da Barra, depois da igreja matriz, surge à direita, depois dos semáforos, uma segunda rua, a dedicada ao nosso homenageado. Trata-se de uma rua estreita, algo sinuosa, por ter nascido sobre um caminho de terra batida, sem traçado prévio.
Josué da Cruz Ribau nasceu no dia 1 de Abril de 1916. Hoje, se fosse vivo, teria 99 anos de idade. Era filho de Manuel Ribau Novo e de Maria da Cruz, esta de Seixo de Mira, sendo irmão de Madalena e do padre Diamantino. Faleceu em 27 de Maio de 1944.
Fez a instrução primária na Gafanha da Nazaré e estudou no Liceu de Aveiro. Foi bom aluno, como reza a tradição e salienta a família, ingressando depois na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Matemática.
O Certificado da mesma Universidade diz, textualmente, que se licenciou em “Ciências Matemáticas", em 26 de Julho de 1940, com o “exame de Geometria Superior", tendo-lhe sido votada, em conselho da Faculdade, "a informação final de bom com catorze valores”.
Foi, tanto quanto se sabe, professor no Liceu de Aveiro e ainda hoje é recordado pela sua simplicidade e inteligência.
Por convivermos com os seus sobrinhos, dele ouvimos muitas vezes falar com muita dedicação e estima. Amigos seus, que também conheci, partilhavam dos mesmos sentimentos de admiração e louvor. Foi, tanto quanto percebi, na minha juventude, uma pessoa muito querida por todos os que o conheceram ou com ele privaram mais de perto.
Conhecemos, pessoalmente, a biblioteca de sua casa, da qual lemos alguns livros que o Dr. Josué decerto apreciou. Essa biblioteca tinha a marca de seu pai, homem marcante na sua geração.
Dessa biblioteca, recordamos autores que então nos entusiasmaram: Júlio Verne, Silva Gaio, Camilo, Eça, Júlio Dinis e até Santo Agostinho, entre outros. Certas obras continham anotações do Dr. Josué e de seu irmão, o Padre Diamantino. Este irmão do Dr. Josué morreu novo, com doença pulmonar. Diz-se que não procurou cura, por acreditar ser essa a vontade de Deus, conforme nos confidenciou um seu sobrinho.
Sobre as suas leituras, contaram-nos que era muito escrupuloso, procurando ter em conta os preceitos da Igreja católica, no que diz respeito a livros então proibidos. Escreveu, por isso, ao Bispo de Coimbra, pedindo autorização para ler uma obra do Índex (relação dos livros não aconselhados pela Santa Sé). O Bispo ter-lhe-á recomendado que talvez fosse melhor envolver-se em leituras relacionadas com os estudos.
O Dr. Josué era um doente epiléptico. Conhecedor da sua doença, ao sentir as crises, pedia sempre que o ajudassem nessas alturas. Nem por isso, contudo, deixou de ser um rapaz do seu tempo, convivendo com amigos e amigas. Talvez pela doença, não chegou a casar.

Fernando Martins

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