A nogueira do nosso quintal


Vezes sem conta já me acolhi à sombra desta nogueira que ano após ano nos garante nozes para uma época. Já tivemos outra que emparceirava com esta, mas tivemos de a cortar para a relva apanhar sol. Quando estou à sua sombra, sucedem-se histórias a ela ligadas, com décadas na minha memória. Dizem que as memórias muito antigas têm mais visibilidade na velhice das pessoas. É o caso. 
Lembro-me como se fosse hoje: as duas nogueira, de uns dois palmos cada uma, foram-me oferecidas pela candura de um menino que foi meu aluno. Nunca percebi porquê, mas o certo é que vi naquele gesto uma sinceridade e uma amizade tão grandes que nunca mais saíram da minha vida. O menino era, e julgo que ainda é, o Agra, da Marinha Velha. Nunca mais o vi, como a tantos outros. Ou se vi, não o reconheci. 
O Agra foi o mesmo menino que, num passeio escolar, foi acometido de uma grande dor de barriga,  em Oliveira de Azeméis, que me obrigou a regressar apressado, com ele,  de táxi, para ser internado no Hospital de Aveiro, onde foi operado a uma apendicite. 
Pelo seu gesto e pela história de sucesso da sua primeira intervenção cirúrgica, fico grato à nossa nogueira.
Aqui fica uma saudação especial para o Agra e para a sua família. 

Fernando Martins 

Sem comentários:

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...