A riqueza da memória

No cimo da serra do Buçaco

Os anos passam, mas as memórias ficam. Podem estar esquecidas ou perdidas, mas há sempre um dia… Saltam dos seus esconderijos e dão gritos estridentes, como que a dizer: — Estamos aqui! E estão mesmo. As memórias são riqueza incalculável. E há quem não lhes dê valor…
Hoje, ao cotejar um álbum de fotografias antigas, daquelas que só depois de reveladas nas casas de fotografia é que nos mostravam a habilidade do fotógrafo, o que manejava a máquina, mesmo sem saber muito, dei de caras com esta imagem. E recuei no tempo algumas décadas, com imensas saudades.
A foto mostra quem tinha ido de passeio à serra do Buçaco, com farnel e tudo, como recordo bem. Só o fotógrafo, o meu Fernando, é que não ficou no retrato. Foi pena. Se fosse hoje, a máquina seria programada para apanhar toda a gente.
Os anos passaram, mas as expressões são as mesmas. Se repararmos bem, lá está a minha saudosa mãe, de luto pelo falecimento do meu pai. Depois de ele nos deixar, a minha mãe nunca mais vestiu nada de cor garrida. Tinha por nome Rosa, mas era conhecida por Rosita Facica. A alcunha vinha dos apelidos. Nós, os facicas, somos herdeiros dos Franciscos da Rocha. Rosita, porque era a mais nova dos quatro irmãos (João, Manuel, Silvina e Maria) e a mais pequena.
O farnel foi saboreado num recanto da mata, sítio propício à abertura, em crescendo, do apetite. E nada nos fazia mal. Grandes tempos. E depois não faltaram os saltos e as brincadeiras, a indispensável bola e a satisfação de minha mãe e nossa estampada nos rostos. Uma felicidade simples mas saborosa, que deixou marcas indeléveis no meu espírito. E por mor da fotografia, fui hoje, sem sair de casa, até ao Buçaco.
Fixando-me na fotografia, posso ler a Lita a olhar atentamente o horizonte alargado, como só o cimo da serra pode ofertar. O Paulo, ao lado dela, na mesma pose. Eu estou atento ao fotógrafo, talvez preocupado com algum tremelique que desfoque o registo. O Pedro, agarrado à bola, parece pensativo ou a sonhar… e a Aidinha, em jeito de senhorinha, com anseios de ficar bem no retrato. Minha mãe, serena, atenta à habilidade do Fernando.

Fernando Martins

4 comentários:

Unknown disse...

Que linda recordacao; ali esta a (ti Rosita) assim lhe chamava a minha saudosa Mae e prima dela, que Deus lhe de o descanso eterno a ela ao marido o ti Armando e ao filho o Armandito, obrigado pela linda foto, abraco amigo Professor.

Unknown disse...

Que linda recordacao; ali esta a (ti Rosita) assim lhe chamava a minha saudosa Mae que Deus lhes de o descanso eterno a elas ao marido ti Armando e ao filho o Armandito, obrigado pela foto que me fez voltar ao passado da nossa familia, abraco Professor

Unknown disse...

Que bonita fotografia tio., E belo e emocionante texto. Também eu tenho saudades quando me recordo de tempos passados..
Até tenho saudades de ser criança, da idade da inocência e da vida cor de rosa. Quem me dera poder voltar no tempo..
E poder voltar a abraçar avó Rosita. e brincar novamente com os primos de quem guardo muito boas recordações desses tempos. Há coisas que marcam as nossas vidas, pela positiva, e nunca me esqueci de um passeio em que vocês me levaram a Pardilhó. Era eu pequenita. Lembro me como se fosse hoje, que estava mal disposta da barriga, e a tia lita foi fazer uma caminhada comigo e fez me uma massagem na barriga até me passar. Não sei porque nunca me esqueci disto. Talvez porque a titi foi muito querida comigo. Um beijo grande

Fernando Martins disse...

Obrigado pelos vossos comentários, que vieram avivar as minhas memórias. Um abraço para todos.

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