quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Dona Luz Facica nas minhas memórias

A Gafanha da Nazaré foi surpreendida, no dia 4 de outubro, pela triste notícia do falecimento de Dona Maria da Luz Rocha, uma mulher que passou por este mundo fazendo o bem sem olhar a quem. Digo Gafanha da Nazaré, por ser sua terra natal, onde sempre viveu, marcando inúmeras pessoas e famílias pela sua bondade, sentido de responsabilidade, coerência cristã, espírito pedagógico das suas intervenções e amor aos feridos da vida, mas sei que a dor da sua partida para o Pai ultrapassou as fronteiras da nossa região.
Dona Luz Facica, como era conhecida entre nós e muito para além da Gafanha da Nazaré, foi uma cristã de corpo e alma inteiros porque, desde sempre, moldou a sua existência para estar, animar, ajudar, aconselhar e indicar caminhos de bem, de verdade e de vida digna aos que com ela conviviam ou dela se aproximassem em momentos de fragilidades humanas ou de pobreza extrema. 
A Dona Luz, que tivemos a felicidade de acompanhar em muitas ações, dando-lhe o apoio incondicional quando alguns lho recusavam, foi, para imensa gente, um pouco de todo o país, uma mãe solícita, uma crente fervorosa, uma católica empenhada na comunidade e, sobretudo, um testemunho, no meio da sociedade e em todas as circunstâncias, como seguidora incondicional de Jesus Cristo e da Sua Boa Nova que haveria de revolucionar a nossa era, a era cristã, tão simplesmente pelo mandamento novo que nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

Ainda jovem, mas já viúva e com quatro filhos, olha com ternura para as mulheres e raparigas mal-amadas rejeitadas pelas famílias, namorados ou maridos, e avança, com Rosa Bela Vieira, na qualidade de vicentinas, para o apoio concreto a quantas lhe batiam à porta a pedir ajuda… E a bola de neve foi crescendo, sempre com a sua firme determinação, formalizando-se depois com o conhecido nome de Obra da Providência, uma instituição que soube, desde a fundação, ler e interpretar os sinais dos tempos, esforçando-se por ultrapassar barreiras para muitos intransponíveis. Desde o início com raparigas e mulheres em perigo moral, ostracizadas pelas famílias e comunidades, olhando depois da revolução dos cravos para a premência de ajudar as famílias na educação dos seus filhos. Curiosamente, pouco tempo antes de falecer, chamou a atenção para a necessidade de a Obra se voltar também para os pais, mas ainda para os refugiados. «O que é que a Obra poderá fazer por eles?», questionou Dona Luz.
Não se julgue, porém, que Dona Luz Rocha só olhava para as pessoas, pois estava atenta a outras propostas que, de alguma forma, pudessem enriquecer a comunidade, mesmo sob o ponto de vista espiritual, sendo esta uma fonte de vidas plenas alicerçadas em Cristo. Assim, acolheu as primeiras Irmãs de Maria de Schoenstatt, dando trabalho a algumas e espaço para viverem, uns tempos, na sede da Obra da Providência.
Há uma faceta da sua intervenção social muito conhecida e caracterizada pelo sentido pedagógico da vida. Não dava dinheiro ou bens, fosse a quem fosse, simplesmente por dar. Levava os beneficiários a raciocinar sobre a forma como gastavam os seus rendimentos, indicava maneiras de poupar, explicando o inconveniente do supérfluo. 
Está já junto do Deus que tanto amou, com Eucaristia diária que jamais dispensou, pois acreditava, firmemente, que toda a força que possuía para fazer o bem sem olhar a quem, em especial às mulheres mal-amadas e aos carentes de pão e amor, vinha precisamente daí. Deus em Jesus Cristo, que ela via nos rejeitados e perseguidos, nos pobres e nos infelizes, era a sua inspiração diária, a força do seu discernimento, a coragem da sua intervenção fraterna e o amor que repartia com toda a gente.

Fernando Martins

Nota: Texto escrito para o jornal Timoneiro

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