domingo, 18 de novembro de 2018

A brancura que cai dos céus

Recordando

Serra da Estrela 


A beira-mar tem os seus encantos: os horizontes largos dão-nos margem aos sonhos. Há décadas, um amigo meu do interior do país, de passagem pela Gafanha da Nazaré, quedava-se tardes inteiras sentado com os olhos fitos na linha longínqua que definia o oceano. Nunca tinha visto o mar, que não havia posses para passear até ao litoral. Nem sequer havia televisão na aldeia onde vivia. 
Espantado com tanta obsessão pelo nosso mar, perguntei-lhe, como quem não quer a coisa, por que razão por ali ficava tanto tempo. Respondeu-me, com alguma candura, “que esperava ver, ao longe, sinais de terra”. 
Vem isto a propósito dos terríficas mas simultaneamente belas paisagens nevadas, que o frio tem provocado por algumas zonas do país. Terríficas porque causam transtornos e podem mesmo meter medo a quem viaja. Belas porque nos mostram imagens raras como aquelas que os nossos olhos contemplam via televisão. 
Eu, que nasci ao som do mar e com o cheiro da maresia a entrar-me por todos os poros, nunca pude apreciar ao vivo, em plena serra, o espetáculo da neve a cair e a pintar de branco puro montes e vales, florestas e pessoas. Apenas visitei uma vez a Serra da Estrela, e neve, a sério, por aqui, nunca. Apenas um dia, na escola onde lecionei, há muitos anos, caíram uns farrapitos de neve que mal cobriram o recreio. E todos, professores, empregada e alunos, deixaram livros e cadernos, problemas e leituras para se deslumbrarem com a pureza que naquele dia nos levou a sorrir com gosto. Pudesse eu sentir o palpitar de um nevão e talvez ficasse como o meu amigo, extasiado, a apreciar a Natureza com tudo o que ela tem de bonito e de raro, em dias purificados pela brancura que cai dos céus. 

Fernando Martins

Nota: Texto publicado em 11 de janeiro de 2010.

sábado, 17 de novembro de 2018

Rossio: Crianças e Moliceiros




Ameaça de chuva com vento e frio, ao entardecer, no Rossio, Aveiro, percebe-se bem a ausência das crianças. Uma pomba estaria à espera delas. Em vão. 
No canal, ao lado, circulavam moliceiros com turistas. Quando falamos de moliceiros, associamos de imediato o moliço que estrumava terras de lavoura. Tempos que já não voltam. E os moliceiros, que enxameavam a laguna aveirense, estariam condenados a morte lenta, sem honra nem glória. Foram salvos pelo turismo, mas a sua história de vida, de séculos, nunca poderá ser esquecida.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A paciência

Pescadores e acompanhantes
Pescadores em hora de descanso?

Aprecio a paciência, nas suas múltiplas expressões, porque traduz qualidades que não possuo em grau elevado. Mas sei reconhecer que a paciência pode trazer aos seus cultores prazeres inesperados. Desde logo, os pescadores desportivos, que são capazes de estar horas e horas à espera que o peixe pique (vulgo ensaie roubar o isco), correndo o risco de ficar preso no anzol. Do mesmo modo, sei que os fotógrafos de animais raros ou fugidios, que temem o homem como o diabo a cruz, que são capazes de ficar à espera, pacientemente, noites inteiras, que eles surjam entre a folhagem das florestas ou nos interstícios das fragas serranas. Mas ainda os fotógrafos que buscam um pôr do sol único, enquadrado por panoramas fascinantes, esperando dias e dias que a oportunidade o surpreenda. 
Hoje fiquei-me pelos pescadores que, na Praia da Barra, durante a tarde abençoada por um sol acalentador, tentaram apanhar uns peixinhos para o jantar. Eram vários, mas não vi que algum pescasse coisa de jeito. E lá ficaram, serenamente, pensando que há dias e dias. Amanhã será melhor, admitirão todos. E eu acredito.

Fernando Martins

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Tenho andado assim


Tenho andado assim. Será da chuva? Será do vento? Será do frio? Das gentes não será certamente. Será talvez da melancolia, que, sem dar por ela, me deixa cabisbaixo e pensativo. Seja disto ou aquilo, uma coisa é certa: vou pôr de lado o tom magoado da pedra chorosa. A alegria tem de prevalecer. 

Gosto dos moliceiros

Gosto dos moliceiros que outrora dominavam os canais lagunares. E quando navegavam à vela, quase deitados de lado sobre a tranquilidade da ria, dominados por homens do leme com o saber de experiência feito, então a paisagem tornava-se deslumbrante. 
Hoje, arredados que foram das fainas da apanha do moliço, sobrevivem na área do turismo, não só para forasteiros darem umas voltinhas, mas também para nós, os mais idosos, podermos alimentar as nossas saudades de tempos que não podem voltar. 
Boa semana para todos, com ou sem moliceiros à vista. 

Fernando Martins

domingo, 11 de novembro de 2018

Imagens do Jardim Oudinot


 Postais ilustrados  
para memória futura
Jardim Oudinot - sala de visitas da nossa terra


O farol no outro lado do canal de Mira

Ria com farol à vista


Igreja matriz vista do Oudinot

Portas d´Água 

O prazer da pesca 

Reflexos do sol na ria 

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Memórias da “Praia do Farol” (3)


Quando eu era miúdo e jovem, o São João era festejado na Praia do Farol, com muita devoção. Era uma festa diferente das que hoje se fazem, quando se fazem. Presentemente, quando se fala do São João da Barra, fala-se de uma sardinhada com boroa e bem regada, com música gravada ou de conjunto musical. E fica-se por aí, mais ou menos. Mas antigamente era muito diferente. 
À minha memória vêm logo os romeiros que a pé, de bicicleta ou de carro se deslocavam para junto da capelinha do São João, vindos de perto e de longe, sendo muito frequente a oferta de cravos  (flores) ao santo milagreiro que tirava os cravos ou verrugas dos dedos das mãos. Esta crença vem de tempos que não posso precisar, mas sei que perdurou pelos tempos fora, até que passou de moda. Confesso que não sei se esta fé nos milagres atribuídos a São João Batista (ou por seu intermédio, junto de Deus) existia noutras terras. 
Nos meus tempos de menino e moço, porém, era certo e sabido que muita gente tinha os tais cravos ou verrugas sobretudo nos dedos das mãos, o que não era nada agradável, diga-se de passagem. Não sei se por falta de higiene se por outro motivo. Contudo, os cravos ou verrugas acabavam por desaparecer tão depressa como depressa apareciam. E neste vaivém os cravos incomodavam o pessoal, sobretudo os jovens. E daí as promessas. 
Penso que os médicos terão elucidado os crentes e neste ínterim começaram a escassear as promessas. E acabaram os cravos (flores) oferecidos ao nosso São João da Barra. Mas é natural que um ou outro devoto ainda entre na pequena igreja do São João, ali bem perto do Farol, para ofertar cravos ao parente de Jesus Cristo, o chamado precursor do nosso Salvador. 

Fernando Martins 

Nota: Sobre a chamada capela de São João da Barra, farei uma nota brevemente. 

Reflexos de vida de Fernando Martins

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