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Memória de um Cortejo dos Reis

(Foto dos meus arquivos)

O Cortejo dos Reis, ano a ano repetido, leva-me a experimentar a proximidade com as pessoas, muitas delas envolvidas na vivência desta antiga e sempre renovada tradição. A festa do Cortejo dos Reis proporciona-me a oportunidade de voltar aos tempos em que eu, menino, com meu irmão, mais novo três anos, participei no Cortejo dos Reis, de uma ponta à outra, cada um com a sua cana às costas. Na ponta da cana lá ia a prenda para o Menino Jesus. Não consigo recordar toda a pequena carga, mas dela fazia parte um chouriço, um pequeno bacalhau, umas laranjas e nem sei que mais. Mas também é verdade que os nossos frágeis ombros não suportariam muito mais. 
O meu pai levou-nos até Remelha, de bicicleta, como era hábito na altura, entregando-nos ao cuidado de pessoa sua conhecida. Ainda me lembro de ouvir a minha mãe dizer que estaríamos assim a pagar uma sua promessa, coisa que não compreendi. Mas se ela dizia que tínhamos de ir no Cortejo, não haveria razões para discordar.
Recordo-me, com que saudade, de que, mal o cortejo chegou à igreja, eu e o meu irmão corremos para casa com os presentes ao ombro. Estava terminada a promessa. Quando entrámos na cozinha, os meus pais ficaram admirados e logo nos questionaram:
— Então não entregaram os presentes ao Menino Jesus, como vos recomendámos? O meu pai sorria como só ele sabia sorrir… 
Respondemos com o silêncio.
A minha mãe, mulher prática, resolveu a situação.
— Vai lá, Armando, e paga os presentes.
E assim foi. Mas como entender que tínhamos de entregar os presentes à comissão organizadora, se não conhecíamos ninguém? 
Afinal, as tradições são sempre excelentes motivos para reconstruirmos as nossas histórias de vida, por mais humildes que sejam.

Fernando Martins

Uns matraquilhos para os meus filhos

O Menino Jesus viria de madrugada

matraquilhos para crianças - Pesquisa Google:


Já lá vão muitos anos, mas o Natal desse tempo distante ficou-me na memória para sempre. Quando comprei em Ovar um bilhar de matraquilhos, à medida das idades dos meus filhos, resistente quanto baste, imaginei-os manhã cedo a correr para junto do fogão de sala, onde haviam deixado os sapatitos. O Menino Jesus viria de madrugada, segundo a tradição, para deixar, sorrateiramente, as prendas natalícias. Era cena intrigante para eles, decerto para todas as crianças, porque a chaminé, por onde teria de passar, estaria cheia de cinza. Mas os pais lá contornavam, delicadamente, o problema apoiados na certeza de que o Menino, que era Deus, nunca sairia sujo por causa da sua generosidade para com todos, em especial para quem se portasse bem. E estas histórias, que muitos julgam ridículas, não deixariam de ser, e ainda são, arte pedagógica enriquecedora do imaginário infantil, intrínseco à formação integral do ser humano

Recordando o Padre Manuel Maria

Nós temos muito amor à nossa Gafanha

Padre Manuel Maria


«Nós, os mais velhos desta terra (donde já eram naturais os nossos pais de santa memória), temos muito amor à nossa Gafanha da Nazaré, e não a trocaríamos por nenhuma outra, ainda que fosse a nossa capital Olissiponense.
Conhecemo-la outrora, quando ela ainda era “criança”. Algumas casitas humildes, semeadas pelo meio dos pinheiros, servidas por caminhos de areia, por onde os boizitos mal podiam arrastar o carro quase vazio. As carências eram de toda a ordem. Só havia abundância duma coisa: trabalho duro e pouco rentável, e uma indómita vontade de trabalhar.
Era bom que os novos pensassem nisto, para nunca sucumbirem em face das dificuldades da vida, lembrando-se de que são descendentes de homens sacrificados e esforçadíssimos, que poderíamos intitular de “Heróis” da terra.
Ora, pelo grande amor ao trabalho, pelas admiráveis potencialidades desta região, decorrentes sobretudo da vasta Ria e do Mar imenso ligados a esta terra por um complexo de amigos inseparáveis, e por muitas outras causas que não dependem da vontade do homem — o que é certo e evidente é que o progresso das Gafanhas (que não é só da Gafanha da Nazaré) tem sido nos últimos anos insuperável e galopante.

PIQUENIQUES DOUTROS TEMPOS


Sem muito sol e com aragem a propor abrigo, não faltaram no parque que habitualmente atravesso famílias em piqueniques. O aconchego do arvoredo e as mantas estendidas convidaram quem estava, e muitos eram, a saborear os farnéis que de longe vislumbrei. E pela forma como eram degustados, sem pressas e sem complexos, posso garantir que estavam apetitosos. Depois, seguiu-se a soneca dos mais pesados e a bola dos mais miúdos. Tanto bastou para eu recuar uns bons 40 e tal anos, quando, com a família, bem unida e concordante, fazia o mesmo, quer na mata da Torreira e S. Jacinto, quer entre a Costa Nova e a Vagueira. Não era pela poupança, embora não fosse despiciendo pôr de lado essa vertente. Bons tempos.
Preparado o farnel, à medida das idades e dos apetites, preparada a trouxa do indispensável, que as comodidades exigiam, tudo arrumado no carro, sem espaço para mais nada, lá seguíamos à procura do lugar ideal, onde não incomodássemos nem fôssemos incomodados, que de vizinhos desconhecidos nunca se sabe o que pode surgir.

AINDA A MINHA RUA ALMEIDA GARRETT


A Flor com o Guri sem guerras

«Muito haveria para escrever... fiquei a pensar na quantidade de memórias que uma rua consegue conter... Se todos os que aí vivem e viveram fossem acrescentando uma pequenina frase... Eu lembrei-me logo que era a rua onde viviam os meus bisavós, com o seu quintal a preencher grande parte da rua...Por aí passei diariamente, durante os anos da escola primária, para aproveitar a boleia do Senhor Professor Fernando...Num bonito carro, um carocha!!! Se estava a chover, a água na vala corria como um rio... e logo apareciam os girinos, que se apanhavam para meter em frascos... A chuva também fazia grandes charcos, no saibro, uma delícia para saltar lá para dentro com botas de borracha... 
Parabéns por mais um bonito texto!!!!!»

Cláudia

Em “Comentários”

NOTA: O texto que escrevi neste meu blogue de memórias e estórias sobre a minha rua mereceu da Cláudia um comentário que aqui transcrevo e que retirei do sítio certo, em “comentários”. De facto, é como ela diz, quando sublinha que ficou «a pensar na quantidade de memórias que uma rua consegue conter…»
A vala de que ela fala parecia um autêntico rio, mesmo caudaloso em pleno inverno. Um primo meu costumava fazer uma espécie da jangada para navegar, enquanto outros se entretinham a fazer barquinhos que por vezes desapareciam levados pela corrente impetuosa. Ele era o navegador, com ares de importante.
Uma outra faceta da minha rua é a solidariedade patente entre vizinhos, à moda antiga, com troca de produtos da horta e fruta. E quando alguém adoece, não faltam as preocupações naturais, com troca de informações. 
Tivemos um cão, o Guri, que só estava bem na rua, para incomodar sobretudo os ciclistas. Até se tornou antipático para alguns. Mas um dia foi gravemente atropelado, necessitando de ser intervencionado para curar as mazelas. Pois a vizinhança até vinha visitar o Guri e procurar saber das suas melhoras. E a minha mulher, a Lita, lá ia dando nota da evolução da cura, falando dele como se uma pessoa fosse. 
A Cláudia evoca também os seus bisavós, o Tio João Catraio e a Tia Carolina, de que hei de falar um dia destes. É que convivi muito com o Tio João Catraio, com quem bastante aprendi do viver de antigamente.

F. M.


Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...