Bom Dia de S. Martinho

Castanhas e jeropiga para 



Como manda a tradição, celebra-se hoje, 11 de novembro,  o Dia de S. Martinho. Se a nossa região fosse terra de vinhos, teríamos de provar o vinho novo com as castanhas. Assim, limitar-nos-emos a beber um vinho qualquer, ao gosto de cada um, ou a também tradicional jeropiga. Vou pelo que estiver à mão.
Que me lembre, as castanhas numa foram a base da alimentação das nossas gentes, o que acontece mais nas terras de muitas e boas castanhas. Neste caso, é sabido que as castanhas serviam para confecionar boas e substanciais sopas, alguns doces e até para acompanhar carne assada. Garanto que as castanhas são um excelente complemento. Um dia destes fizemos a experiência de substituir as batatas pelas castanhas na carne assada no forno. 
Por cá, pelas nossas terras, opta-se pelas castanhas assadas. Antigamente em caçarolas de barro, com buracos, e temperadas com sal grosso. Eram saborosas, sim senhor. Mas nada que se compare às que comprávamos nas pontes, o olho da cidade, em Aveiro. Vinham embrulhadas em papel de jornal e em folhas das listas telefónicas já retiradas de uso. Sabiam muito bem. Uma dúzia de apetitosas castanhas, de casca esbranquiçada, pelo fogo e talvez pelo sal, descontando umas tantas pobres que vinham sempre na rede das mãos dos vendedores, eram delícias que nos enriqueciam o paladar, para além de nos aquecerem um pouco o corpo e a alma.
Agora, são, normalmente, assadas num qualquer fogão a gás ou elétrico, mas que não é a mesma coisa, lá isso não é. Garanto-vos. Nem as cozidas me sabem tão bem como as assadas. Gostos temperados noutros tempos, por certo.
Bom dia de S. Martinho para todos.

F,M,

Passagem pela Livraria Lello



Durante a minha vida, passei diversas vezes pela célebre livraria Lello, que ostenta a fama de pertencer a um grupo restrito das mais belas do mundo. De facto, ali tão perto da também célebre Torre dos Clérigos, tudo faria crer que eu a tivesse visitado, mas assim não aconteceu, por razões que desconheço, já que sou um frequentador assíduo de livrarias. A fachada é notoriamente diferente das que a ladeiam, dando por isso nas vistas. A verdade é que lá fui pela primeira vez, faz hoje cinco anos, aquando da minha visita ao Porto. A sua beleza e fama estão na arquitetura do seu interior, realmente histórica e digna de ser vista. Não há quem lhe fique indiferente e julgo que é por isso que há sempre quem entre e aprecie com gosto. Aconteceu comigo. Fotografei de um lado e de outro, subi para desfrutar a livraria Lello por todos os cantos. E até desci à cave onde há umas tantas edições, próprias, de bolso, provavelmente únicas, no género.
Cá estão visitantes de máquina em punho, fazendo o que eu havia feito, depois de outros me convidarem, pelo seu exemplo, a fotografar. Pelo que vi, o interior é chamariz para muitos turistas. Portugueses e estrangeiros, havia no rosto de muitos um certo ar de espanto. Depois lá olhavam para os livros.

Homenagem: Irmã Maria Rosa



Partamos 

Partamos!...
a sorrir… de mãos dadas…
olhos presos no azul do Infinito…
embriagando-nos de luz…
— da luz pura e renovadora da Verdade —
galgando «encostas»…
escalando «rochedos»…
conquistando, enfim, as cristas nevadas!...

Ferimos as mãos?...
Tingimos de sangue as pedras dos caminhos?...
Sentimos vertigens à borda de abismos?...
Que importa?

Todo o esforço é uma conquista…
a vida é uma conquista…
que nos deixará na alma, no coração,
em todo o nosso ser, uma alegria justa e imensa…
— a alegria indizível de vencer!...

Subamos!...
É preciso subir para viver…
Subir para ver mais longe…
Subir para compreender os nossos irmãos…
Subir para abraçar a Humanidade inteira…

Partamos, então, a sorrir, de mãos dadas…
Calcorreando caminhos e estradas...
cobertas de pó e de suor…
mas a cantar… a cantar…
irradiando à nossa volta
ALEGRIA
AMOR…

Irmã Maria Rosa

In Timoneiro, Fevereiro de 1984


NOTA: Presto hoje uma singela homenagem a uma pessoa que conheci na década de oitenta do século passado. Chamava-se Maria Rosa e era uma consagrada das Religiosas do Amor de Deus. Tirou o curso de Educadora de Infância já madura. E trabalhou, como coordenadora do jardim e Creche da Obra da Providência, durante algum tempo. Pessoa exigente, responsável e com capacidade de iniciativa. Frontal sem esconder o lado espiritual da vida. 
Há dias encontrei uns poemas seus no Timoneiro e tanto bastou para a lembrar com alguma emoção. Em momentos especiais não se esqueceu de mim. Regressou lá para os lados de Lisboa, onde continuou a trabalhar. Anos depois reconheci-a num concurso da Televisão, para conseguir fundos para uma acção que estava a desenvolver. Ganhou uma verba, que não consigo precisar, e ficou feliz. Soube, mais tarde, que tinha falecido.
Recordo-a com saudade.

FM

Gafanhões e Gafanhoas

Gafanhoas (foto da rede global)


«Estou a ver os homens baixos e magros de camiseta e de ceroulas compridas, de flanela, estas com atilhos amarrados nas canelas, barba por fazer (só se fazia aos sábados, no barbeiro), boné ou chapéu na cabeça, mãos gretadas pelo trabalho duro, descalços, rostos envelhecidos, queimados pelo vento e pelo sol impiedosos, força de vontade férrea, poupados, com gosto pelo trabalho e pela solidariedade tantas vezes manifestada, religiosos sem beatices, amigos dos seus amigos. 
As mulheres baixas e de pernas grossas, sem cintura e sem pescoço, olhos ingénuos, de chapéu de palha na cabeça por cima de um lenço que amarrava sobre o chapéu, roupas escuras, exceto ao domingo, em que se abusava da cor garrida, sobretudo as das secas do bacalhau, pernas com canos (meias sem pés) enfiados para o sol não as queimar, que era fino tê-las brancas, descalças, mãos gastas pelo trabalhos, tranças na cabeça, porque “permanentes” eram para as da cidade, religiosas sem exageros, amantes do trabalho e poupadas, solidárias e amigas das suas amigas.
Leituras e escritas não são hábitos de homens e mulheres de antigamente, salvo raras exceções.»

Fernando Martins,
de uma palestra proferida num colóquio 
organizado pelo GEGN

NOTA: Os tempos evoluíram e o retrato das últimas décadas é em grande parte muito diferente.

Festas na Gafanha da Nazaré

Imagem que veio da primeira matriz


Diz a tradição que sempre houve festas na Gafanha da Nazaré. Mesmo antes da criação da paróquia e freguesia o povo organizava e participava nas festas, muitas delas, senão mesmo todas, feitas à sombra dos padroeiros e outros santos da comunidade católica. 
Além da festa da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, há registos e memórias de outras: Nossa Senhora da Conceição (muito participada por todos, em especial pelos marítimos ligados à pesca do bacalhau), São Tomé (com promessas dos lavradores referentes ao gado), Mártir São Sebastião, Nossa Senhora dos Navegantes (no Forte) e São João (na Barra). 
Posteriormente, vieram as festas de Nossa Senhora dos Aflitos (Chave) e São Pedro (na Cale da Vila). Eram festas que se estendiam pelo verão, depois ou durante as colheitas, como necessidade de descompressão para quem trabalhava duramente nos campos. 
Havia ainda datas festivas que entusiasmavam o nosso povo, celebradas com alegria, nomeadamente, o Natal e a Páscoa, cada uma com caraterísticas próprias. Destas, destacamos o Natal, a que se associava os Reis. 
Contudo, não faltava a alegria, sempre que motivo surgisse. A “botadela” na marinha, o erguer da casa, a “matadela” do porco, as novenas, as romarias da região, como o São Paio da Torreira, a Senhora da Saúde, a Senhora das Areias e a Santa Maria de Vagos, entre outras. Mas também os casamentos e baptizados, as primeiras comunhões, as visitas de Nossa Senhora de Fátima e os encerramentos da catequese. 
Romarias mais distantes estiveram, desde sempre, nas agendas dos gafanhões. A pé ou de camioneta, em especial ao santuário de Fátima, como ainda hoje acontece.

Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

24 horas na paz do Senhor

22 de outubro de 2006



Como homem do mar e da ria, pisando chão plano, sempre sonhei, desde menino, com a magia da serra. Anos e anos olhei para as silhuetas das montanhas, bem visíveis em dias claros, com sonhos de um dia sentir ao vivo a paz dos montes, rodeado do silêncio e da verdura da floresta virgem.
Já crescido, recordo os meus primeiros contactos com a serra e senti muitas vezes, ao longo da vida, o sortilégio da montanha, onde vou quando posso. E o mais curioso é que, quando a visito, novas sensações me invadem a ponto de alimentar, nem sei porquê, projetos inviáveis de me fixar nos montes de vidas mais calmas e da tranquilidade absoluta que me aproxima de modo diferente do espiritual. 
Por 24 horas, fui mais uma vez ao Caramulo, onde há recantos aparentemente nunca vistos, que vamos descobrindo e redescobrindo em cada esquina, sobretudo em aldeias quase despovoadas que estão carregadas de história e de estórias, que são, sem dúvida, riquezas que não podem continuar ignoradas.

Milénio e bicentenário de Aveiro

Eu assisti

O mastro quase a prumo

Eu assisti aos trabalhos de erguer o mastro do Milénio da povoação de Aveiro e  Bicentenário da cidade, datas que se celebraram em 1959. Comandou as operações delicadas o Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, com muita gente a assistir, porventura receosa, alguma, de o mastro não entrar no buraco para ficar com as bandeiras a assinalar as efemérides, que se esperavam festivas.
Como manobrador do camião do estaleiro do Mestre Mónica, estava o então meu amigo Henrique Correia, que veio a ser o primeiro presidente do Grupo Desportivo da Gafanha, sendo eu o secretário.
O camião estava carregado, julgo que com toros, para garantir a estabilidade do veículo quando aplicava a máxima força para erguer o mastro. Cordas grossas postas em lugar estratégico, naturalmente, garantiam a resistência suficiente para o êxito esperado. O Mestre falava alta, gritava mesmo, para que todos ouvissem as suas ordens. E quando veio a ordem para o Henrique Correia acelerar o camião, paulatinamente, o mastro começou a levantar-se e no sítio certo, bem aprumado, lá ficou a lembrar a todo o nosso mundo que Aveiro existia desde 959, como povoação ligada a Mumadona Dias, e como cidade a partir de 1759.

F.M.

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...