Festas na Gafanha da Nazaré

Imagem que veio da primeira matriz


Diz a tradição que sempre houve festas na Gafanha da Nazaré. Mesmo antes da criação da paróquia e freguesia o povo organizava e participava nas festas, muitas delas, senão mesmo todas, feitas à sombra dos padroeiros e outros santos da comunidade católica. 
Além da festa da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, há registos e memórias de outras: Nossa Senhora da Conceição (muito participada por todos, em especial pelos marítimos ligados à pesca do bacalhau), São Tomé (com promessas dos lavradores referentes ao gado), Mártir São Sebastião, Nossa Senhora dos Navegantes (no Forte) e São João (na Barra). 
Posteriormente, vieram as festas de Nossa Senhora dos Aflitos (Chave) e São Pedro (na Cale da Vila). Eram festas que se estendiam pelo verão, depois ou durante as colheitas, como necessidade de descompressão para quem trabalhava duramente nos campos. 
Havia ainda datas festivas que entusiasmavam o nosso povo, celebradas com alegria, nomeadamente, o Natal e a Páscoa, cada uma com caraterísticas próprias. Destas, destacamos o Natal, a que se associava os Reis. 
Contudo, não faltava a alegria, sempre que motivo surgisse. A “botadela” na marinha, o erguer da casa, a “matadela” do porco, as novenas, as romarias da região, como o São Paio da Torreira, a Senhora da Saúde, a Senhora das Areias e a Santa Maria de Vagos, entre outras. Mas também os casamentos e baptizados, as primeiras comunhões, as visitas de Nossa Senhora de Fátima e os encerramentos da catequese. 
Romarias mais distantes estiveram, desde sempre, nas agendas dos gafanhões. A pé ou de camioneta, em especial ao santuário de Fátima, como ainda hoje acontece.

Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

24 horas na paz do Senhor

22 de outubro de 2006



Como homem do mar e da ria, pisando chão plano, sempre sonhei, desde menino, com a magia da serra. Anos e anos olhei para as silhuetas das montanhas, bem visíveis em dias claros, com sonhos de um dia sentir ao vivo a paz dos montes, rodeado do silêncio e da verdura da floresta virgem.
Já crescido, recordo os meus primeiros contactos com a serra e senti muitas vezes, ao longo da vida, o sortilégio da montanha, onde vou quando posso. E o mais curioso é que, quando a visito, novas sensações me invadem a ponto de alimentar, nem sei porquê, projetos inviáveis de me fixar nos montes de vidas mais calmas e da tranquilidade absoluta que me aproxima de modo diferente do espiritual. 
Por 24 horas, fui mais uma vez ao Caramulo, onde há recantos aparentemente nunca vistos, que vamos descobrindo e redescobrindo em cada esquina, sobretudo em aldeias quase despovoadas que estão carregadas de história e de estórias, que são, sem dúvida, riquezas que não podem continuar ignoradas.

Milénio e bicentenário de Aveiro

Eu assisti

O mastro quase a prumo

Eu assisti aos trabalhos de erguer o mastro do Milénio da povoação de Aveiro e  Bicentenário da cidade, datas que se celebraram em 1959. Comandou as operações delicadas o Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, com muita gente a assistir, porventura receosa, alguma, de o mastro não entrar no buraco para ficar com as bandeiras a assinalar as efemérides, que se esperavam festivas.
Como manobrador do camião do estaleiro do Mestre Mónica, estava o então meu amigo Henrique Correia, que veio a ser o primeiro presidente do Grupo Desportivo da Gafanha, sendo eu o secretário.
O camião estava carregado, julgo que com toros, para garantir a estabilidade do veículo quando aplicava a máxima força para erguer o mastro. Cordas grossas postas em lugar estratégico, naturalmente, garantiam a resistência suficiente para o êxito esperado. O Mestre falava alta, gritava mesmo, para que todos ouvissem as suas ordens. E quando veio a ordem para o Henrique Correia acelerar o camião, paulatinamente, o mastro começou a levantar-se e no sítio certo, bem aprumado, lá ficou a lembrar a todo o nosso mundo que Aveiro existia desde 959, como povoação ligada a Mumadona Dias, e como cidade a partir de 1759.

F.M.

Férias de antigamente

Recordações de A-dos-Ferreiros 



Durante uma férias em A-dos-Ferreiros, Préstimo, há uns 51 anos, com um casal amigo (Olívio e Virgínia), encontrei e guardei este seixo do rio Alfusqueiro. Outros fizeram-lhe companhia e estão por aqui como símbolos de agradáveis momentos passados naquela aldeia do concelho de Águeda.
Na altura, a ida para A-dos-Ferreiros não foi por acaso. O saudoso Padre Lé, que havia sido pároco do Préstimo e pessoa bem relacionada com uma família local, resolveu o problema e lá fomos, creio que um mês ou perto disso, para uma habitação nova de um casal comerciante em Águeda. Outros ares muito diferentes dos nossos, com tranquilidade quase absoluta. A casa não tinha energia elétrica nem água canalizada, luxos para o tempo. A água era de uma fonte particular a que tivemos acesso e a luz vinha de candeeiros e velas. Para o quarto de banho e cozinha,  havia que trabalhar acarretando o precioso líquido. Para a sanita, tínhamos a água da chuva, que era aproveitada por canejas que a recebiam do telhado, ficando armazenada num tanque de onde a tirávamos com um balde.
Os passeios eram frequentes para ficarmos a conhecer a terra. E o rio, de águas límpidas e temperadas, davam para refrescar. No fundo do leito acumulavam-se seixos roliços de tanto saltarem serra abaixo. 
O contacto com o mundo não era muito. Vizinho da casa, um sapateiro (Serafim?), cujo nome não consigo recordar, abria a sua oficina para nos acolher e para podermos ler o jornal, Penso que o JANEIRO, assinado por uns tantos cidadãos de A-dos-Ferreiros. Quando por lá passavam, iam dar uma olhado aos títulos, desporto e pouco mais. 
Conversávamos com toda a gente. Alguns até nos contavam os seus progressos na vida, compra de terrenos que faziam, projetos  em curso. Um brasileiro, decerto com alguns meios de fortuna porque não trabalhava, destacava-se pelos seus ataques à Igreja Católica. Dizia-se que havia recebido as influências dos republicanos que por lá teriam andado nos princípios do século XX... E o pároco, o Padre Abílio, não entrava em discussões. Homem pacato, rezava as missas para pouca gente e criava frangos para sobreviver. 
Por hoje fico-me por aqui... Talvez volte outro dia.


Hora da Saudade




“Hora da Saudade” era um programa da Emissora Nacional, destinado a emitir mensagens para os bacalhoeiros portugueses, que se encontravam nos mares da Terra Nova e da Gronelândia. Na Gafanha da Nazaré, as emissões eram à noite e saíam do Cine-Teatro Triunfo, localizado na Cale da Vila, na Rua D. Manuel Trindade Salgueiro, na esquina com a Rua D. Fernando.
Há anos, ao manusear O ILHAVENSE de 10 de Setembro de 1953 encontrei a notícia que transcrevo, em jeito de recordação. Era eu, em nome da família, que participava na “Hora da Saudade”, lendo a mensagem previamente escrita e dirigida a meu pai, contramestre do arrastão Santo André, um dos campeões do mundo da pesca do fiel amigo. Recordo, com que saudade, esses momentos comoventes que por vezes me bloqueavam, tremendo na leitura. Como acontecia a tantos outros familiares dos bravos lobos-do-mar. Algumas esposas e mães, ora alegres e esfusiantes, ora tristes e mais comedidas, lá iam lendo com desenvoltura ou soletrando com dificuldade as mensagens, que o locutor anunciava, pausadamente. No meu caso, era assim: “Para Armando Lourenço Martins, tripulante do Santo André, vai falar seu filho Fernando.”
Eu lia, então, e quando terminava saía feliz. O meu pai, longe, muito longe, bem avisado, como todos, tinha ouvido a minha voz e escutado, e gravado na sua alma, a mensagem da família.
Aqui fica a notícia que li no jornal O ILHAVENSE:

Outras Férias — Serrazes

Solar dos Malafaias
Serrazes foi uma grande experiência de férias diferentes. O contacto com a natureza, virgem e verdejante, deixou marcas indeléveis no meu espírito e no espírito de todos os meus filhos e esposa. Não conhecíamos tal povoação do concelho de S. Pedro do Sul, mas um casal amigo, Margarida e Jeremias Bandarra, teve a gentileza de nos indicar o parque de campismo ainda desconhecido de muita gente, mais dada a esta forma de gozar férias sem grandes custos.
A primeira visita terá sido numas miniférias, ao que suponho de Carnaval. Chuva, muita chuva, estragou-nos a festa. Mas nem assim deixámos de programar o acampamento para o mês de agosto. E assim foi. Nesse longínquo mês de agosto e noutros que se lhe seguiram. O parque de campismo de Serrazes tinha o estritamente necessário, sem luz elétrica. Porém, lá nos adaptámos a essas raras condições de sobrevivência. A luz veio tempos depois.

No dia do nosso casamento

Uma passagem 
pela Figueira da Foz

Na Figueira a recordar tempos idos

Há 50 anos mais uns dias, eu e a Lita passámos, apressados, pela Figueira da Foz. Foi no dia do nosso casamento, 7 de agosto de 1965, no Bunheiro, depois da boda que se realizou em Pardilhó em casa das tias Zulmira e Aidinha, quais mães solícitas como a tia Lurdes. Íamos a caminho da lua de mel numa residencial das Irmãs Concepcionistas, por sugestão de um casal amigo. 
Não importa agora falar do casamento, cuja cerimónia foi presidida pelo nosso comum amigo Padre Lé. Isso ficará para outra ocasião. Hoje quero tão-só recordar o motivo por que a Figueira da Foz ficou nas nossas memórias. 
A madrinha Zulmira, atenta, preocupada e solícita, havia preparado um bom farnel para a viagem e, eventualmente, para o jantar, com um pouco do muito que havia na mesa da boda. Ela garantiu-nos que nada faltaria e estou em crer de que assim seria.
Saímos de Pardilhó no velho Skoda, carro duro mas sempre operacional. Naquele tempo não se dava tanta importância a pormenores de luxos dos carros. Preciso era que andassem e nos levassem onde fosse necessário sem avarias. Nunca me recordo de aquele automóvel nos ter dado qualquer incómodo. Mas adiante.

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...