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As minhas praias... Sem ciúmes

Eu identifico-me, presentemente, com três praias: Barra, Costa Nova e Figueira da Foz. Gosto de outras, mas estas enchem-me as medidas por razões pessoais. Aqui ficam três fotos, com as legendas que justificam as minhas opções. Mas que fique claro: não quero que haja ciúmes entre as minhas três praias. 

BARRA 


Gosto da praia da Barra porque nasci a dois passos do seu mar e do seu areal. Desde tenra idade, identificava, na noite silenciosa, o som cadenciado das ondas a estenderem-se na praia, o trabalhar dos motores das traineiras a saírem para o mar, o rugido da ronca a anunciar nevoeiro na costa, a luz do farol com avisos à navegação. Agora, que preciso de caminhar, a praia da Barra dá-me a possibilidade de entrar no mar, um bom quilómetro, pelo molhe sul, para sentir distintamente a maresia, o palpitar do mar, ora sereno ora bravio. Mas ainda para me deliciar com horizontes largos, aqui e ali assinalados por navios que passam ao largo ou entram na barra. 

COSTA NOVA 


A Costa Nova também me está no sangue e na alma. Os sons confundem-se ou misturam-se, irmãmente, com os da Barra. E se o mar é o mesmo, a laguna que bordeja a povoação, com mais de 200 anos de vida, enche-me a alma de paz. Olhando-a, de pertinho, ali estão a beijar-nos os pés a sua água transparente, os seus barquinhos à vela que nos convidam para viagens de tranquilidade, os pescadores na safra que os alimenta, a vontade de dar um saltinho até às Gafanhas, com ponte à vista. Ao longo da ria, na Costa Nova, há sempre a possibilidade do encontro com outras gentes que procuram um ar cada dia diferente. 


FIGUEIRA DA FOZ 



A praia da Figueira da Foz (Buarcos na imagem) foi, para mim, uma conquista tardia. Nem por isso deixo de a admirar, como se pode e deve admirar uma terra com tradições antigas na arte de aproveitar o sol à beira-mar, sobretudo para a burguesia. Depois, e bem, democratizou-se, e hoje a praia da Figueira é de toda a gente. Aquela marginal a perder de vista, com areal de um lado e vida urbana do outro, com o oceano, ao longe, a desafiar-nos, tudo isto me encanta em dias de menos vento e de mais sol. Gosto de por ali caminhar, cruzando-me com quem passeia tranquilamente ou insiste em perder peso, com gente jovem e menos jovem, a pé ou de bicicleta e sempre com a serra da Boa Viagem à vista. 

Fernando Martins 


NOTA: Texto escrito em 2008

A ronca assustava

João Evangelista de Campos conta, no seu livro "Achegas para a historiografia de Aveiro", a estória que reproduzo a seguir. O Zé Maria de que fala era o banheiro da época na praia da Barra. E sobre a ronca, a que nos habituámos, há décadas, está tudo dito. Os que nada sabiam dela ficavam assustados. E com razão, diga-se de passagem.



Memórias da “Praia do Farol” (3)


Quando eu era miúdo e jovem, o São João era festejado na Praia do Farol, com muita devoção. Era uma festa diferente das que hoje se fazem, quando se fazem. Presentemente, quando se fala do São João da Barra, fala-se de uma sardinhada com boroa e bem regada, com música gravada ou de conjunto musical. E fica-se por aí, mais ou menos. Mas antigamente era muito diferente. 
À minha memória vêm logo os romeiros que a pé, de bicicleta ou de carro se deslocavam para junto da capelinha do São João, vindos de perto e de longe, sendo muito frequente a oferta de cravos  (flores) ao santo milagreiro que tirava os cravos ou verrugas dos dedos das mãos. Esta crença vem de tempos que não posso precisar, mas sei que perdurou pelos tempos fora, até que passou de moda. Confesso que não sei se esta fé nos milagres atribuídos a São João Batista (ou por seu intermédio, junto de Deus) existia noutras terras. 
Nos meus tempos de menino e moço, porém, era certo e sabido que muita gente tinha os tais cravos ou verrugas sobretudo nos dedos das mãos, o que não era nada agradável, diga-se de passagem. Não sei se por falta de higiene se por outro motivo. Contudo, os cravos ou verrugas acabavam por desaparecer tão depressa como depressa apareciam. E neste vaivém os cravos incomodavam o pessoal, sobretudo os jovens. E daí as promessas. 
Penso que os médicos terão elucidado os crentes e neste ínterim começaram a escassear as promessas. E acabaram os cravos (flores) oferecidos ao nosso São João da Barra. Mas é natural que um ou outro devoto ainda entre na pequena igreja do São João, ali bem perto do Farol, para ofertar cravos ao parente de Jesus Cristo, o chamado precursor do nosso Salvador. 

Fernando Martins 

Nota: Sobre a chamada capela de São João da Barra, farei uma nota brevemente. 

Memórias da “Praia do Farol” (1)



Recordo com a nitidez possível e a verdade da minha memória a primeira vez que vi o Farol e o então Lugar do Farol, antes de me habituar ao topónimo atual de Praia da Barra. Foi antes do final da II Guerra Mundial (1939-1945). Teria eu, que nasci em 1938, uns seis anitos ou pouco mais. 
Com a minha mãe lá fomos a pé encomendar pão a uma padaria que existia ao lado do Farol e à mercearia e pensão do Senhor Mourinho. O racionamento imposto por Salazar, em consequência da neutralidade estabelecida pelo governo, levava a que as famílias procurassem abastecer-se de alguns bens onde fosse possível. Recordo a escassez de açúcar, azeite e outros produtos alimentares. 
Fiquei extasiado quando olhei para o Farol, tão alto era ele, coisa nunca vista por mim, pouco viajado, cujos horizontes me limitavam ao adro da igreja e à mata da Gafanha, onde minha mãe ia lavar a roupa, por tão límpida ser a água de um poço aberto em qualquer altura, nos areais, junto aos pinheiros. Eram zonas dunares, iguais às que ficavam perto do mar. 
E se o Farol me deixou extasiado, imagine-se como terei ficado ao olhar para a imensidão do mar. Olhava… olhava nem sei à procura de quê, e só via água, espumas e ondas que amansavam quando se estendiam no areal, como que a descansar depois de longa viagem. E regressei a casa com desejos de voltar. 
Penso que foi a partir dessa visita que me habituei a ver a luz que segundos a segundos nos alertava para a existência do Farol. Terei ficado a saber que a luz servia para avisar os navegadores de que ali havia terra e barra de entrada de navios. E a ronca que me acompanhou em tantas noites sem sono e em madrugadas brumosas.

Fernando Martins

Praia da Barra em dia luminoso






Hoje quebrei alguns hábitos de comodismo. Levantei-me cedo e abalei tranquilo para a Praia da Barra. Para caminhar, olhar à volta, apreciar o que há e se faz, inspirar a maresia e sentir o prazer de gozar um dia luminoso. Luz, mais luz, ausência de vento, pouca gente nas ruas, uma ou outra no areal, dragas que passam para a remoção do que possa prejudicar a navegação, numa barra que sempre precisou destes cuidados, desde que Luís Gomes de Carvalho rebentou com a ponta da bota a já ténue barreira que separava as águas do oceano e da ria. 
Entrei pela primeira vez, depois do restauro e ampliação, no mercado da Barra, passei pelo Parque de Campismo onde inúmeras vezes fui feliz com a Lita e filhos, olhei para a capela de São João que tem por companhia Santo António. Lembrei as festas e a romaria que no dia próprio se faziam ao santo popular que, milagrosamente, eliminava os cravos que surgiam nos dedos do pessoal. Tanto cravo que era oferecido ao santo… 
O povo, de perto e de longe, passava em fila indiana pela minha porta. E eu também lá fui com minha mãe e irmão, mesmo sem cravos nos dedos.
A Barra estava realmente com pouco movimento. Lojas fechadas, casas à espera de quem as ocupe para férias, o farol a encher os nossos horizontes, a fonte, qual pobre e esquecido monumento, sem torneiras nem água, que agora toda a gente prefere a dita engarrafada, os parques de crianças sem vivalma, as esplanadas à espera da hora da bica. 
Olhei o areal e tentei recordar a primeira vez que pisei a praia. Não faço ideia… Só me veio à memória, retrocedendo bem no tempo, um livro que li, estendido na areia durante umas tardes, de Joaquim Paço d’Arcos, “Memórias duma nota de banco”, editado em 1962… Tinha eu 24 anos. 
Os meus amigos hão de estranhar, mas na minha infância não havia muito a tradição de frequentar regularmente as praias. Quando muito, no verão, aos domingos, lá se ia até ao mar para saborear uma merenda… Uns anos depois, já mais crescido, a praia tornou-se predileção da juventude, e não só. Só que eu, por ter adoecido gravemente dos pulmões, fiquei proibido de respirar os ares húmidos do mar. Outros tempos. 

Fernando Martins

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...