Mostrar mensagens com a etiqueta Férias. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Férias. Mostrar todas as mensagens

Férias em tempos difíceis



O isolamento, à partida, não é saudável. Eu sei que a solidão pode ser procurada e até desejada. Porém, os convívios são fundamentais à vida, porque homens e mulheres são seres sociáveis. Vivem e convivem uns com os outros, preferencialmente apoiados nos princípios do amor, da amizade, da solidariedade e da fraternidade.
O verão transporta sempre, com o seu calor benfazejo, um convite à partilha de sentimentos e emoções, principalmente quando estamos unidos. Para isso, aconselhamos a organização de piquenique e passeios de bicicleta, nas nossas matas e jardins que ostentem condições de higiene e segurança, ambientais e paisagísticas de relevo. No nosso município há muitas ofertas que todos podemos usufruir.

NOTA: Texto publicado há anos. 

Três dos meus amores



Os filhos e netos perpetuam-nos no mundo. O nosso ADN vai passar, se Deus quiser, de geração em geração. Até ao fim dos tempos. Vem isto a propósito do nosso neto Dinis ter passado uns dias connosco. Os outros, a Filipa e o Ricardo, passam por cá quando podem, o que  é sempre uma alegria para os avós. E também para eles, afirmo-o sem ter dúvidas. 
Hoje, na hora da partida, ao apreciar os sacos e malas das roupas e outras coisas, veio o desafio de registar em fotografia a carga que uma pessoa, mesmo pequena, carrega para uns simples dias de férias.  E três dos meus amores sorriram perante os meus comentários. Eu, que sou do tempo em que nos governávamos com pouquíssima coisa, apenas o suficiente para a vida de há uns 70 anos, não posso deixar de evocar as alterações profundas que se têm verificado na sociedade ao longo das últimas gerações, a tantos níveis.  Houve progressos nunca sonhados na minha meninice e formas de viver e de pensar  que se impuseram como marcas civilizacionais que serão alicerces de mudanças em constante movimento. Penso que poucos terão grandes saudades dos tempos passados, para além dos mimos com que nos brindaram.
Nos sacos e sacolas, malas e maletas dos tempos atuais, não falta nada. Para uns dias, há roupa para as quatro estações, calçado variado, jogos e quebra-cabeças, cadernos e livros de estudo que nem são abertos, computador (Claro!) para imensos tempos livres. E na despedida, a avó até comentou: — nestas curtas férias, só foste regar uma vez; nem foste ao galinheiro buscar os ovos; nem construíste nada no quintal; na próxima visita, teremos de fazer um programa diferente. 
Depois da fotografia, lá foi o Dinis com a mãe Aida. Alegres como sempre. E a  casa ficou vazia. 

Fernando Martins

Raul Brandão: A chegada à Madeira




“Fundeamos e a Madeira abre-nos os braços, com a Ponta do Garajau num extremo, e a Ponta da Cruz no outro extremo. Adivinho as casas, que por ora são fantasmas e descem lá do alto até à praia. Agora o tom cinzento desapareceu, domina o azul e o oiro, e na minha frente o grande anfiteatro verde dos montes ergue-se como um altar até ao céu. É uma serra a pique, é uma serra voluptuosa e verde que se oferece lânguida e verde" (...) 

Raul Brandão, escritor nascido em 1867, no Porto, escreveu “As Ilhas Desconhecidas”, um livro publicado pela primeira vez, em 1926, que reúne notas e reflexões da sua viagem à Madeira e aos Açores.

NOTA:
1. Da nossa única visita à Madeira, guardamos, ainda com alguma nitidez, o colorido da Ilha, a afabilidade das gentes, as autoestradas do Alberto João e a marca bem visível da capacidade turística daquele rincão luso no meio do oceano. Sonhei voltar, mas fiquei-me pela hipótese...; 
2. As fotografias que ontem achei no meio de centenas não são de boa qualidade, mas dão para perceber quanto a ilha tem a nível de panoramas convidativos à descontração que pudemos perceber. Contudo, dão a ideia da nossa juventude que, entretanto,  passa a  feliz recordação;
3. Esta mensagem, neste meu espaço de memórias, vem na sequência do texto que li hoje em Portos de Portugal.  

Férias em Pardilhó

Monumento ao emigrante
Largo Central
A Lita na sua terra, em visita com data imprecisa 

Em férias, onde quer que estejamos, lembramos sempre outras férias onde fomos felizes. Ainda bem, porque recordar é viver. Em Pardilhó, fomos felizes todas as férias de verão. Lá viviam as tias Zulmira e Aida, ambas solteiras e "mães" da Lita, que nutria por elas um amor carregado de ternura. Até devoção. Outra tia, a Lurdes, também "mãe", vivia em Aveiro e a Pardilhó voltava com frequência. Num ambiente de dedicação plena, partilhávamos fraternidade em tudo o que fazíamos e planeávamos. Saídas à praia da Torreira, em cuja mata passávamos horas em piqueniques previamente organizados com todo o rigor, onde nada faltava para miúdos e crescidos. 
A visita à praia, para molhar os pés, não podia fugir ao esquema. Mais para andar pelo areal e arredores do que para mergulhar nas águas normalmente frias. Não havia muito o gosto pelo mergulho nem sequer apetência pelo bronzeado. Acho que nos bastava o moreno natural da nossa pele. Havia na praia a merenda também preparada antecipadamente. Os nossos filhos, naturalmente pequenos, deliravam com o carinho dispensado pelas tias. O amor que lhes tinham era notório. 

Quando da Gafanha da Nazaré nos deslocávamos a Pardilhó, em qualquer altura do ano, a alegria deles expressava-se em crescendo evidente. Cantavam, exteriorizando o prazer que adivinhavam na hora do encontro. Certo e sabido. Nas férias de Pardilhó a saúde de todos era normal. Comia- se de tudo e nada fazia mal. Era uma alegria. Depois não faltava o encontro com outros familiares e amigos e os bancos do largo central, junto à igreja de S. Pedro, eram cúmplices de conversas infindas. Como sala de visitas da freguesia, o largo, constituído por dois espaços distintos, proporcionava o reencontro com pessoas que não se viam há muito. Nessas férias, anos e anos repetidas, havia passeios obrigatórios à Ribeira da Aldeia, com canal da ria cheio de moliceiros, bateiras e mercantéis, estaleiros à vista com carpinteiros e decoradores em ação, moliço que salta dos barcos para os carros de vacas, garotos que nadam na laguna, emigrantes que chegam e olham nostálgicos tempos que não voltam. Um ou outro pescador regressa da faina, enquanto alguns partem indagando dos melhores pesqueiros. Um serralheiro com graça e sentido comercial afixou, numa janela de sua casa, uma publicidade curiosa: "Fisgas que ensinam a pescar." Destinavam-se elas à pesca clandestina de solhas e linguados. 
Recordo ainda o pão fresco da padaria do Álvaro, de sabor único. Pão de forma normal e de coroa, este o mais apetecido. Nunca lhe conheci o segredo, mas que era excelente, lá isso era. Pardilhó era uma terra de muita migração. A falta de trabalho obrigou bastantes pardilhoenses a fixarem-se em Lisboa. A Lita, por exemplo, tinha na capital seis tios com suas famílias. Porém, nas férias, muitos vinham à terra natal para matar saudades, resolver problemas familiares e conviver com os amigos. Agosto era, sem dúvida, um mês de festa, com movimento desusado. E toda a minha família gostava das férias nesta altura do ano. 

Fernando Martins

Sugestões de férias para os meus amigos



Quem nasceu e vive com o som do mar a embalar o seu adormecer, e sente, ao acordar, as ondas a espraiarem-se nas dunas, não pode deixar de sonhar, também, com a silhueta dos picos da serra, que ao longe nos desafia. A primeira vez que fui à serra, e à medida que me aproximava dela, os meus olhos de menino pouco viajado ficaram deslumbrados. Senti um não sei quê na alma, um prazer inexplicável que ainda hoje, tantos anos depois, é um mistério no meu espírito. À serra vou sempre que posso e às vezes até juro a mim mesmo que um dia por lá hei de ficar uns tempos largos, para calcorrear montes e vales, entre vegetação luxuriante ou entre penedos com formas estranhas de figuras fantásticas que enriquecem o imaginário de qualquer um.
Há dias fui ao Caramulo à procura desses ares límpidos, alimentados, e de que maneira, pelo verde que tudo enche, ao som de regatos que deslizam do cimo dos montes, por entre pedregulhos que amplificam o cantar da água saltitante que apetece beber a toda a hora. E quando a sede aperta, como apertou depois de um almoço de vitela assada que só por ali tem um sabor como em nenhuma outra parte, então foi um regalo beber uns bons copos de água de fonte natural, recebida em bilha de barro vermelho que a tornou mais fresca.
Campo de Besteiros, São Tiago de Besteiros, Guardão, Janardo, Pedronhe e Cabeço da Neve foram alguns recantos da Serra do Caramulo que uma vez mais pude contemplar em dia partilhado com amigos que não esconderam o sortilégio que estas terras transmitem a todos os que chegam. Ruas e estradas amplas ao lado de ruelas empedradas que lembram tempos ancestrais, histórias de lutas travadas entre íncolas serranos e povos invasores, casario a cair de podre porque gente teve de emigrar, habitações com sinais de quem regressou à terra depois de muito trabalhar e de lutar na estranja, sanatórios abandonados porque os tuberculosos já se curam em casa, sem a ajuda dos ares puros da serra, de tudo um pouco se foi fixando na retina dos meus olhos, que nunca se cansaram de apreciar  miradouros naturais a paisagem a perder de vista.
Para os contemplativos, a Serra do Caramulo é uma bênção de Deus. Ali, longe dos habituais horizontes, sinto que a beleza não adulterada pelo mau gosto, em muitíssimos recantos, oferece a quem a visita a imagem do divino, que o céu contempla e abençoa com nuvens que batizam aspergindo tudo e todos.
A voz do silêncio que tantas vezes se fez ouvir, aqui e ali perturbada pela cantilena da água que descia apressada do cimo dos montes, à cata de gente que a saboreasse, ainda mais me convidava a cultivar a necessidade de voltar. O que farei sempre que puder, para encher os pulmões de ares puros e os pensamentos do aconchego do bem e do belo.
Proponho, ainda, a leitura de um livro, “Os poemas da minha vida”, de Marcelo Rebelo de Sousa. A edição é do “Público” e custa uns simples 6 euros. É-me sempre agradável apreciar a escolha de poemas feita seja por quem for. Como que sinto a sensibilidade e a alma de quem opta por este autor, por este ou por aquele poema.
Marcelo Rebelo de Sousa diz, no texto introdutório, que se decidiu por escolher poemas e poetas portugueses contemporâneos, do seu tempo. “Do tempo que vivi e vivo”, referiu.
Logo depois admite que terá ficado uma seleção “dececionante” do seu “tão significativo passado”, passado esse que nunca esquece. Ainda assim, diz que escolheu “o presente e o futuro”, na linha do seu “modo de ser”.
Por esta seleção de Marcelo passam poetas de Língua Portuguesa dos anos 50, 60, 70, 80 e 90, até hoje, que também proporcionam ao leitor, que gosta de poesia, momentos de encantamento.
O meu voto é que nas férias [de Natal ou noutras] que se avizinham muitos aproveitem para cultivar o espírito, na certeza de que o corpo também lucrará.
Proponho, ainda, um disco da minha conterrânea e amiga Jacinta: Tributo a Bessie Smith, com edição de Blue Note e aposta da TSF. Se não falarmos dos nossos valores, quem o poderá fazer? E não é a Jacinta a primeira artista portuguesa de jazz a ser editada pela Blue Note? Dela sublinha, José Duarte, a dicção, a força interpretativa e a sensibilidade. E a propósito de algumas interpretações de Jacinta, refere que é preciso ouvir, dar a ouvir e popularizar esta obra de arte.

Fernando Martins

Nota: Publicado no Correio do Vouga em 3 de abril de 2006

Outros tempos — Boas recordações de férias


Sem muito sol e com aragem a propor abrigo, não faltaram hoje no parque que habitualmente atravesso famílias em piqueniques. O aconchego do arvoredo e as mantas estendidas convidaram quem estava, e muitos eram, a saborear os farnéis que de longe vislumbrei. E pela forma como eram degustados, sem pressas e sem complexos, posso garantir que estavam apetitosos. Depois, seguiu-se a soneca dos mais pesados e a bola dos mais miúdos. Tanto bastou para eu recuar uns bons 40 anos, quando, com a família, bem unida e concordante, fazia o mesmo, quer na mata da Torreira e S. Jacinto, quer entre a Costa Nova e a Vagueira. Não era pela poupança, embora fosse compreensível ter em conta essa vertente. Bons tempos.
Preparado o farnel, à medida das idades e dos apetites, preparada a trouxa do indispensável, que as comodidades exigiam, tudo arrumado no carro, sem espaço para mais nada, lá seguíamos na procura do lugar ideal, onde não incomodássemos nem fôssemos incomodados, que de vizinhos desconhecidos nunca se sabe o que pode surgir.
Com o cheirinho do mar e da ria, de mistura com o aroma dos pinheiros e arbustos, o que se comia, salgados, doces e frutas, sabia a banquete de festa, que nos obrigava, não raramente, a marcar novo piquenique, ainda no Verão, sem frio nem chuva que incomodassem. E anos e anos foram passando, com a família a registar na memória momentos que perduram.
Depois da barriguinha composta, os mais velhos, com avós e tias que sabiam estórias vividas e repetidas vezes sem conta, nunca negaram a soneca. Os mais novos, esses não dispensavam a bola, mesmo quando mal podiam com ela.
Nunca faltaram ocasiões cheias de sonhos e de felicidade sentida e esperada, para o futuro que aí vinha apressado. "Agora, os mais novos ainda brincam com olhos atentos ao que faziam e como faziam; daqui a uns anitos como será?", era questão que me deixava calado...
Os anos passaram e os interesses multiplicaram-se. A vida trouxe novos hábitos e a idade reclamou comodidades, até aí sem peso para se imporem.
As formigas e os mosquitos provocaram alergias, as mantas não eram acolchoadas e o chão nada tinha de mesa que se visse, para além dos tachos, pratos e talheres. Os piqueniques tiveram o seu fim quase por completo. Mas a saudade desses tempos, repletos de alegria, ainda me assalta, como boa recordação que não quero perder.

Fernando Martins

O João que nunca descobriu o truque

Férias em agosto
Olhou para mim e perguntou: 
— Não me conheces?
— Não! — respondi.
Olhei melhor e a sua expressão dizia-me qualquer coisa. Nem assim consegui reconhecê-lo.
Foi então que ele me disse de quem era filho. E de imediato tudo se tornou claro. Era o João.
Aí começou a animar-me a minha memória. Que me visitava frequentemente quando na juventude estive doente dos pulmões e acamado. Que gostava de conversar comigo e dos truques que eu fazia para entreter os amigos que vinham saber da minha saúde. Só não conseguiu perceber como é que eu fazia desaparecer a moeda que caía no copo de água. 
— Ainda hoje me lembro desse truque e nunca descobri como é que fazias aquilo.
— São truques… — adiantei eu.
Falou-me dos pais, dos filhos e da reforma que está a viver. 
Disse-me que muitas vezes se tem cruzado comigo sem nunca ter tido a coragem de me interpelar.
Ralhei com ele e disse-lhe que nunca mais fizesse isso. Gosto que me falem ajudando-me a recordar o passado. Não faz sentido passar por alguém que conhecemos sem uma saudação, por mais simples que seja.
(…)
Agosto é, desde que me lembro, o mês de férias por excelência. Para quase toda a gente. E quando a emigração começou para a Europa, sobretudo, é certo e sabido que na Gafanha da Nazaré e demais povoações de Portugal as férias passaram a ser mais animadas. Há aldeias quase a desaparecer do mapa que se transfiguram, enchendo-se de vida. Quando passei férias em Trás-os-Montes com a família, senti de perto essa realidade. Nas vilas e cidades, as férias dos emigrantes ficam mais diluídas, mas nem por isso ignoramos que os nossos conterrâneos estão de volta durante pelo menos um mês.
Os anos passam a correr e os cabelos brancos ou a falta deles escondem fisionomias que nos foram próximas. Mas estamos sempre a tempo de as trazer até nós. Basta uma simples saudação para desfiarmos memórias de décadas.
Aqui fica uma saudação amiga para os emigrantes que chegam para férias, mas também para os que não puderam vir.

Serrazes — Férias inesquecíveis

À espera da água para o banho
À descoberta da Pedra da Escrita
Conquista da Pedra da Escrita
No parque de campismo. Os nossos filhos com filhos de uma família de Coimbra
Por vezes perguntamo-nos por que razão ficamos presos uma vida inteira a certas terras e certas férias, mas a resposta, para nós, Fernando e Lita, está nesta foto de há décadas. E como esta há muitas outras.
Os nossos quatro filhos (Fernando, Pedro, Paulo e Aidinha, por ordem decrescente), no parque de Campismo de Serrazes, esperavam que o tanque, uma espécie de piscina, ficasse cheio de água para poderem nadar. O Paulo, que agora também é conhecido por João, e a Aida Isabel, a Aidinha, como ela exige que a tratemos, não tiveram paciência e saltaram para o tanque, ao que julgo de água gelada porque era proveniente de uma nascente. 
No verão talvez fosse aceitável. Posteriormente, e na hora certa, a água servia para regar a horta do Guarda Florestal, o qual, diga-se de passagem, fazia os seus negócios com os campistas, a quem fornecia hortaliças, coelhos, um ou outro frango, ovos e até fruta. 
Bons tempos em que pudemos viver em contacto direto com a natureza de ares renovados constantemente pela floresta verde. Perto, um ribeiro de águas transparentes permitia tomar banho para refrescar corpos e ideias. 
Aldeias típicas de ruas e ruelas estreitas, casas solarengas de famílias com raízes ancestrais, como os Malafaias, e, ainda, o monumento conhecido por Pedra da Escrita, desafiavam-nos para caminhadas frequentes.

Férias de antigamente

Recordações de A-dos-Ferreiros 



Durante uma férias em A-dos-Ferreiros, Préstimo, há uns 51 anos, com um casal amigo (Olívio e Virgínia), encontrei e guardei este seixo do rio Alfusqueiro. Outros fizeram-lhe companhia e estão por aqui como símbolos de agradáveis momentos passados naquela aldeia do concelho de Águeda.
Na altura, a ida para A-dos-Ferreiros não foi por acaso. O saudoso Padre Lé, que havia sido pároco do Préstimo e pessoa bem relacionada com uma família local, resolveu o problema e lá fomos, creio que um mês ou perto disso, para uma habitação nova de um casal comerciante em Águeda. Outros ares muito diferentes dos nossos, com tranquilidade quase absoluta. A casa não tinha energia elétrica nem água canalizada, luxos para o tempo. A água era de uma fonte particular a que tivemos acesso e a luz vinha de candeeiros e velas. Para o quarto de banho e cozinha,  havia que trabalhar acarretando o precioso líquido. Para a sanita, tínhamos a água da chuva, que era aproveitada por canejas que a recebiam do telhado, ficando armazenada num tanque de onde a tirávamos com um balde.
Os passeios eram frequentes para ficarmos a conhecer a terra. E o rio, de águas límpidas e temperadas, davam para refrescar. No fundo do leito acumulavam-se seixos roliços de tanto saltarem serra abaixo. 
O contacto com o mundo não era muito. Vizinho da casa, um sapateiro (Serafim?), cujo nome não consigo recordar, abria a sua oficina para nos acolher e para podermos ler o jornal, Penso que o JANEIRO, assinado por uns tantos cidadãos de A-dos-Ferreiros. Quando por lá passavam, iam dar uma olhado aos títulos, desporto e pouco mais. 
Conversávamos com toda a gente. Alguns até nos contavam os seus progressos na vida, compra de terrenos que faziam, projetos  em curso. Um brasileiro, decerto com alguns meios de fortuna porque não trabalhava, destacava-se pelos seus ataques à Igreja Católica. Dizia-se que havia recebido as influências dos republicanos que por lá teriam andado nos princípios do século XX... E o pároco, o Padre Abílio, não entrava em discussões. Homem pacato, rezava as missas para pouca gente e criava frangos para sobreviver. 
Por hoje fico-me por aqui... Talvez volte outro dia.


Outras Férias — Serrazes

Solar dos Malafaias
Serrazes foi uma grande experiência de férias diferentes. O contacto com a natureza, virgem e verdejante, deixou marcas indeléveis no meu espírito e no espírito de todos os meus filhos e esposa. Não conhecíamos tal povoação do concelho de S. Pedro do Sul, mas um casal amigo, Margarida e Jeremias Bandarra, teve a gentileza de nos indicar o parque de campismo ainda desconhecido de muita gente, mais dada a esta forma de gozar férias sem grandes custos.
A primeira visita terá sido numas miniférias, ao que suponho de Carnaval. Chuva, muita chuva, estragou-nos a festa. Mas nem assim deixámos de programar o acampamento para o mês de agosto. E assim foi. Nesse longínquo mês de agosto e noutros que se lhe seguiram. O parque de campismo de Serrazes tinha o estritamente necessário, sem luz elétrica. Porém, lá nos adaptámos a essas raras condições de sobrevivência. A luz veio tempos depois.

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...