Dia do Pai

Uma evocação saudosa do meu pai



Não falta quem desdenhe da celebração do Dia do Pai, por razões que nem sempre compreendo. Lá vem, com desculpa primeira, a de que o Dia do Pai é quando o filho quiser, supostamente todos os dias. Mas a razão não encaixa bem, já que no dia a dia das nossas vidas, por tantas preocupações, nem sempre temos a oportunidade de olhar para os pais. Quando ele morre, a coisa muda de figura. Magicamente, ou talvez não, o Pai (e a Mãe, naturalmente) passam a ocupar um lugar cativo na nossa memória consciente. Todos os dias, por isso mesmo, a figura serena do meu Pai, uma vida inteira embarcado, e o olhar terno da minha mãe são presenças constantes na minha existência. Não exagero. 
Mas hoje é o Dia do Pai, do meu pai que se chamava Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo. Homem simples, com um sorriso aberto constantemente para os filhos, cigarro “Porto” na ponta dos dedos, amarelecidos pela nicotina, ao que suponho, paciente, generoso e com uma capacidade enorme para aceitar sofrimentos. Na tristeza ficava calado, mas nunca acusava ninguém.  O seu gosto muito especial era ser prestável a quem a ele recorria. 
O meu Pai era um homem saudável, de mãos fortes e calosas de tantos anos de trabalho desde menino. Nunca gozou férias fora da sua casa. Quando muito, dava umas voltas ao quintal, visitava os netos diariamente, sempre... sempre a fumar. Vinha a minha casa ouvir e ver o telejornal. Punha os netos mais novos sentados nas suas pernas, fazendo-os saltar enquanto dizia que eram cavalinhos. 
Um dia queixou-se-me com uma dorzita no peito. Talvez de algum, esforço que tivesse feito, garantia. De noite a dor acentuou-se. Às três da manhã, o médico, vizinho, foi vê-lo. Não seria nada de grave.
No dia seguinte entrou na Casa de Saúde de Aveiro. E o homem saudável, sem qualquer doença conhecida, não resistiu a um enfarte. Uns 30 dias depois morreu.Tinha 61 anos. 
Evoco-o neste momento, como todos os dias. Mas hoje, por ser Dia do Pai, partilho esta memória com natural comoção. 

Fernando Martins                           

1 comentário:

Unknown disse...

GRANDE AMIGO E FAMILIAR DA CASA DOS MEUS pAIS, QUE dEUS LHE DE O DESCANSO ETERNO ASSIM COMO A SUA ESPOSA TI ROSA FACICA E SEU FILHO ARMANDITO ASSIM ERA CONHECIDO NO MEIO FAMILIAR, PAZ AS SUAS ALMAS.

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...