Gafanhões e Gafanhoas

Gafanhoas (foto da rede global)


«Estou a ver os homens baixos e magros de camiseta e de ceroulas compridas, de flanela, estas com atilhos amarrados nas canelas, barba por fazer (só se fazia aos sábados, no barbeiro), boné ou chapéu na cabeça, mãos gretadas pelo trabalho duro, descalços, rostos envelhecidos, queimados pelo vento e pelo sol impiedosos, força de vontade férrea, poupados, com gosto pelo trabalho e pela solidariedade tantas vezes manifestada, religiosos sem beatices, amigos dos seus amigos. 
As mulheres baixas e de pernas grossas, sem cintura e sem pescoço, olhos ingénuos, de chapéu de palha na cabeça por cima de um lenço que amarrava sobre o chapéu, roupas escuras, exceto ao domingo, em que se abusava da cor garrida, sobretudo as das secas do bacalhau, pernas com canos (meias sem pés) enfiados para o sol não as queimar, que era fino tê-las brancas, descalças, mãos gastas pelo trabalhos, tranças na cabeça, porque “permanentes” eram para as da cidade, religiosas sem exageros, amantes do trabalho e poupadas, solidárias e amigas das suas amigas.
Leituras e escritas não são hábitos de homens e mulheres de antigamente, salvo raras exceções.»

Fernando Martins,
de uma palestra proferida num colóquio 
organizado pelo GEGN

NOTA: Os tempos evoluíram e o retrato das últimas décadas é em grande parte muito diferente.

Festas na Gafanha da Nazaré

Imagem que veio da primeira matriz


Diz a tradição que sempre houve festas na Gafanha da Nazaré. Mesmo antes da criação da paróquia e freguesia o povo organizava e participava nas festas, muitas delas, senão mesmo todas, feitas à sombra dos padroeiros e outros santos da comunidade católica. 
Além da festa da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, há registos e memórias de outras: Nossa Senhora da Conceição (muito participada por todos, em especial pelos marítimos ligados à pesca do bacalhau), São Tomé (com promessas dos lavradores referentes ao gado), Mártir São Sebastião, Nossa Senhora dos Navegantes (no Forte) e São João (na Barra). 
Posteriormente, vieram as festas de Nossa Senhora dos Aflitos (Chave) e São Pedro (na Cale da Vila). Eram festas que se estendiam pelo verão, depois ou durante as colheitas, como necessidade de descompressão para quem trabalhava duramente nos campos. 
Havia ainda datas festivas que entusiasmavam o nosso povo, celebradas com alegria, nomeadamente, o Natal e a Páscoa, cada uma com caraterísticas próprias. Destas, destacamos o Natal, a que se associava os Reis. 
Contudo, não faltava a alegria, sempre que motivo surgisse. A “botadela” na marinha, o erguer da casa, a “matadela” do porco, as novenas, as romarias da região, como o São Paio da Torreira, a Senhora da Saúde, a Senhora das Areias e a Santa Maria de Vagos, entre outras. Mas também os casamentos e baptizados, as primeiras comunhões, as visitas de Nossa Senhora de Fátima e os encerramentos da catequese. 
Romarias mais distantes estiveram, desde sempre, nas agendas dos gafanhões. A pé ou de camioneta, em especial ao santuário de Fátima, como ainda hoje acontece.

Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

24 horas na paz do Senhor

22 de outubro de 2006



Como homem do mar e da ria, pisando chão plano, sempre sonhei, desde menino, com a magia da serra. Anos e anos olhei para as silhuetas das montanhas, bem visíveis em dias claros, com sonhos de um dia sentir ao vivo a paz dos montes, rodeado do silêncio e da verdura da floresta virgem.
Já crescido, recordo os meus primeiros contactos com a serra e senti muitas vezes, ao longo da vida, o sortilégio da montanha, onde vou quando posso. E o mais curioso é que, quando a visito, novas sensações me invadem a ponto de alimentar, nem sei porquê, projetos inviáveis de me fixar nos montes de vidas mais calmas e da tranquilidade absoluta que me aproxima de modo diferente do espiritual. 
Por 24 horas, fui mais uma vez ao Caramulo, onde há recantos aparentemente nunca vistos, que vamos descobrindo e redescobrindo em cada esquina, sobretudo em aldeias quase despovoadas que estão carregadas de história e de estórias, que são, sem dúvida, riquezas que não podem continuar ignoradas.

Milénio e bicentenário de Aveiro

Eu assisti

O mastro quase a prumo

Eu assisti aos trabalhos de erguer o mastro do Milénio da povoação de Aveiro e  Bicentenário da cidade, datas que se celebraram em 1959. Comandou as operações delicadas o Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, com muita gente a assistir, porventura receosa, alguma, de o mastro não entrar no buraco para ficar com as bandeiras a assinalar as efemérides, que se esperavam festivas.
Como manobrador do camião do estaleiro do Mestre Mónica, estava o então meu amigo Henrique Correia, que veio a ser o primeiro presidente do Grupo Desportivo da Gafanha, sendo eu o secretário.
O camião estava carregado, julgo que com toros, para garantir a estabilidade do veículo quando aplicava a máxima força para erguer o mastro. Cordas grossas postas em lugar estratégico, naturalmente, garantiam a resistência suficiente para o êxito esperado. O Mestre falava alta, gritava mesmo, para que todos ouvissem as suas ordens. E quando veio a ordem para o Henrique Correia acelerar o camião, paulatinamente, o mastro começou a levantar-se e no sítio certo, bem aprumado, lá ficou a lembrar a todo o nosso mundo que Aveiro existia desde 959, como povoação ligada a Mumadona Dias, e como cidade a partir de 1759.

F.M.

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...