Farol da Barra de Aveiro

Um ex-líbris da Região de Aveiro

Farol em construção


O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ílhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-líbris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem o não conheça como o mais alto de Portugal e um dos mais altos da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra.
Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subir ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes.
À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que podem correr perigos ou desejam chegar à Barra de Aveiro em segurança, os que mais o apreciam, sem dúvida.
Ora, esse foco, que começou por ser alimentado a petróleo, passou a beneficiar da energia elétrica em 1936 (sistema eletrogéneo), completando este ano 122 anos de existência. Bonita idade para tal melhoramento merecer ser assinalado, embora de forma simples.
Se tem lógica e algum merecimento a recordação dessa efeméride, não deixa de ser oportuno e justo lembrar que este ano também se podem celebrar os 159 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de janeiro de 1856 e dirigida ao diretor das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol.

Evocando o meu pai — Armando Grilo

Alegria na chegada; a tristeza vinha depois

Armando Grilo



O navio-museu “Santo André” conduz-me sempre a recordações indeléveis, com saudades e memórias de mau pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo, contramestre do arrastão que foi campeão das pescas durante muito tempo. Fazia duas viagens por ano e o meu pai só podia estar connosco em curtas férias, ainda por cima envolvido nos trabalhos de preparação para novas viagens.
A partida para mais uma viagem era dia de luto em casa, com a nossa mãe chorosa e eu e o meu irmão calados. Não tínhamos palavras para dizer. E a vida continuava, com as saudades presentes, atenuadas pela ânsia da chegada, só possível no tempo próprio e com boa carga de bacalhau.
Com a partida do banco, rumo a casa, vinha a alegria e os preparativos da receção começavam, aumentando exponencialmente, para que o pai encontrasse tudo direitinho. Casa, quintal, as coisas pessoais de cada um arrumadinhas, que os avisos da mãe não paravam, lembrando que o pai não gostaria disto e daquilo.
O dia da chegada era festa. Corrida para a Barra, olhando sofregamente o arrastão a entrar, com os tripulantes a acenar com força, bonés no ar, como que a dizer «estou aqui!». Nova corrida para o porto de pesca longínqua, junto à EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), empresa do “Santo André”. E nós ansiosos para entrar no navio.
Cheiro a pão a sair do forno que ainda hoje me não sai do olfato. Manteiga no pão quente de sabor inexplicável. Ou bifanas mesmo rijas, que sabiam bem como poucas. Olhos postos no pai que no seu camarote nos mimava e nos perguntava pela mãe que esperava no cais. Preparar a mala para abandonar o navio. Lembranças escondidas por aqui e por ali, embrulhadas na roupa ou no corpo, como um tecido fino para um vestido de que a minha mãe muito gostou. Uma garrafa de Whisky para um amigo compreensivo, com a pergunta sacramental: «posso sair, senhor guarda?» E um obrigado sem esperar pela autorização.
E lá regressávamos a casa, a pé, que era perto, mas com muita demora, que os amigos gostavam de saber pormenores da viagem. O meu pai não se cansava de contar os temporais, as boas pescas, os sofrimentos de alguns. E a promessa de que qualquer dia deixaria a vida do mar, para onde fora aos 14 anos.
E em casa, à volta da mala, lá esperávamos pelas lembranças de Saint John's. Era a alegria maior. A tristeza chegaria semanas depois.

Fernando Martins

Piódão — Uma aldeia histórica

Passagem obrigatória 
para turista que preza a cultura

Piódão

De Arganil, rumei a Piódão, uma Aldeia Histórica que é uma referência nacional. Foram 41 quilómetros, por estrada que serpenteia a Serra do Açor, do cimo da qual se pode apreciar um panorama único, pela verdura que o enche e pelos desfiladeiros que atemorizam o viajante mais destemido. Por aqui e por ali, casebres abandonados, de xisto, e, lá no alto, as torres que aproveitam a energia eólica. Nem vivalma pelo caminho. Apenas a serenidade e a beleza do ambiente, o ar puro que desentope os brônquios e a alma a sentir-se livre e a querer voar para chegar ao infinito. Depois, ao longe, ao virar de uma esquina serrana, meta à vista, com o casario da aldeia, como um bloco único de xisto.
Piódão é uma aldeia que não pode deixar de fazer parte de qualquer roteiro turístico para quem busca raízes ancestrais. A fundação do povoado data de 1676 e mantém, ainda hoje, as características da região, com uma fidelidade que impressiona. Povoamento concentrado de montanha, numa encosta e em ladeira, casas de xisto, ruas pedestres estreitas e tortuosas, regatos que escorrem por leito de pedra, flores e hortas em recantos aproveitados, tudo nos mostra o labor harmonioso de gente que através de séculos e séculos ali se fixou.

Juniores do Grupo Desportivo da Gafanha


Uma foto para recordar outros tempos. Achei-a no meu arquivo e não resisti em publicá-la até porque há nomes e rostos que me são familiares. Penso que a legenda corresponde à verdade e que o título evoca um ano em que vencemos quase toda a gente. Até o Futebol Clube do Porto, ao que suponho. Corrijam-me se estou enganado.

Construção do Santuário de Schoenstatt

Santuário de Schoenstatt em construção na Gafanha da Nazaré

Dos meus arquivos, desorganizados mas à espera de paciência, repesquei esta foto que mostra a azáfama que a população da Gafanha da Nazaré, em especial, assumiu para construir o Santuário de Schoenstatt, na Colónia Agrícola.Voluntários, com entusiasmo, fizeram trabalhos que muitos, decerto, nem haviam sonhado. Quem corre por gosto não cansa, diz o povo com razão. E o Santuário foi inaugurado no dia 21 de Outubro de 1979, com a bênção do nosso bispo de então, D. Manuel de Almeida Trindade.

Recordando o Padre Manuel Maria

Nós temos muito amor à nossa Gafanha

Padre Manuel Maria


«Nós, os mais velhos desta terra (donde já eram naturais os nossos pais de santa memória), temos muito amor à nossa Gafanha da Nazaré, e não a trocaríamos por nenhuma outra, ainda que fosse a nossa capital Olissiponense.
Conhecemo-la outrora, quando ela ainda era “criança”. Algumas casitas humildes, semeadas pelo meio dos pinheiros, servidas por caminhos de areia, por onde os boizitos mal podiam arrastar o carro quase vazio. As carências eram de toda a ordem. Só havia abundância duma coisa: trabalho duro e pouco rentável, e uma indómita vontade de trabalhar.
Era bom que os novos pensassem nisto, para nunca sucumbirem em face das dificuldades da vida, lembrando-se de que são descendentes de homens sacrificados e esforçadíssimos, que poderíamos intitular de “Heróis” da terra.
Ora, pelo grande amor ao trabalho, pelas admiráveis potencialidades desta região, decorrentes sobretudo da vasta Ria e do Mar imenso ligados a esta terra por um complexo de amigos inseparáveis, e por muitas outras causas que não dependem da vontade do homem — o que é certo e evidente é que o progresso das Gafanhas (que não é só da Gafanha da Nazaré) tem sido nos últimos anos insuperável e galopante.

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...